quarta-feira, 24 de junho de 2009

Cinema - Especial 2 - parte 2

Charlie Chaplin
Obra:
A obra de Chaplin merece aplausos em pé (literalmente).

No início, quando ainda trabalhava para o estudio de Mack Sennet, Chaplin atuou em vários filmes, mas nenhum obteve o sucesso que Mack tinha visto no comediante inglês. Mack e Charlie tiveram a idéia de representar um homem maltrapilho, que andava engraçado, sempre com a bengala torta e chapéu, nascia assim o personagem que eternizou Charlie Chaplin: o Vagabundo


O primeiro filme de Chaplin foi "Mabel's Strange Predicament" (link da wikipedia, eu não assisti esse), que obteve uma repercussão extraordinária no cenário americano, em fev. de 1914. Segue um trecho retirado da autobiografia dele, onde ele conta como nasceu o visual: "I had no idea what makeup to put on. I did not like my get-up as the press reporter [in Making a Living]. However on the way to the wardrobe I thought I would dress in baggy pants, big shoes, a cane and a derby hat. I wanted everything to be a contradiction: the pants baggy, the coat tight, the hat small and the shoes large. I was undecided whether to look old or young, but remembering Sennett had expected me to be a much older man, I added a small moustache, which I reasoned, would add age without hiding my expression. I had no idea of the character. But the moment I was dressed, the clothes and the makeup made me feel the person he was. I began to know him, and by the time I walked on stage he was fully born."

A comédia de Chaplin começou a se tornar mais física, menos centrada em piadas comuns, mas com gags visuais, que eram relativamente novas para o público na época. Isso foi a marca registrada de Chaplin, mesmo em seu único filme 100% falado, a comédia não deixa de ser extremamente física, a movimentação do ator (mesmo quando ele não interpretava o Vagabundo, como em Luzes da Ribalta) era característica e logo se tornou conhecida pelo mundo inteiro.



O Vagabundo.
O personagem principal de Charlie nunca recebia nomes nos seus filmes, e sempre levava algumas características muito marcantes, como as atitudes refinadas, o chapéu, a bengala, o andar, o bigode, as calças extremamente largas, sapato furado, camisa apertada e normalmente furada, entre outros.

Em 1916, a Mutual Film Corporation pagou US$ 650.000 para Chaplin fazer filmes para eles, dando total controle artístico a ele, que pode deslanchar sua careira da maneira que quisesse, produziu filmes conhecidos na época, como "Easy Street", "The Pawnshop", 'The Adventurer", esses filmes eram diferentes das suas obras primas, pois continham um elemento quase inexistente nos filmes mais tardios: a vilania. Depois de terminado esse contrato, houveram muitos outros, com empresas estatais, privadas, enfim, uma infinidade de filmes foram produzidos.

United Artists:
Em 1919, um Chaplin diferente, mais rico, mais experiente, co-fundou a distribuidora United Artists, com outros artistas que buscavam mais liberdade criativa.
Foi nessa época que abriu o Charlie Chaplin Studios, onde filmou a maioria das suas obras-primas, onde pode produzir filmes maiores (com outros estudios, ele fez curtas-metragens para os padrões modernos), os quais comentarei a seguir, cronologicamente:




The Kid (1921):
Uma mulher deixa uma criança abandonada á própria sorte na rua. O Vagabundo, que vagava pelas ruas encontra o bebê e tenta devolve-lo para sua mãe, mas descobre que ele é órfão e decide criá-lo. Os dois ganham a vida aplicando um golpe: um joga pedras na janela, e o outro aparece como um restaurador.
Esse filme foi produzido após a morte do primeiro filho de Charlie, e carrega uma carga emocional muito forte, além de ser curtíssimo (50 minutos), consegue contar uma história bela sobre a relação de pai e filho que consegue arrancar risos se qualquer platéia e até uma lágrima casualmente.



The Gold Rush (1925):
O Vagabundo está no Alasca, buscando ouro (dã...), e passa por condições extremamente ruins, tentando sobreviver (chega a comer a própria bota). Depois, quando está a salvo, na cidade, dá um golpe (mais uma característica do Vagabundo: a malandragem, que não chega a ser maldosa) num velho dono de uma barraca e passa a viver lá. Conhece uma dancarina de uma casa de shows e se apaixona.
O filme originalmente era mudo, mas posteriormente, o próprio Chaplin dublou e narrou o filme, que acabou fazendo muito mais sucesso. Esse filme demonstra até onde o homem vai por dinheiro, e por amor também.




City Lights (1931):
Novamente temos o Vagabundo na cidade, seu habitat natural, onde ele conhece uma florista cega, que o toma por um homem rico. Nisso, o personagem conhece um rico suicida e o salva, tornam-se amigos. Nisso, o Vagabundo e a Florista passa a se amar, ele pega o carro do seu novo amigo emprestado e sai com ela pela cidade, ostentando uma riqueza que não tem. O dono do cortiço em que a mulher mora ameaça-a de despejo caso não pague o aluguel. O Vagabundo oferece ajuda, mas, como não é rico, tem que ganhar o dinheiro até o dia seguinte.
Nesse filme, que foi lançado depois que o cinema mudo perdia espaço para o cinema falado, as vozes de alguns personagens é feita por instrumentos musicais, ironizando o cinema falado. Em "Luzes da Cidade", fica clara a crítica contra os ricos, no personagem do rico suicida, que só é amigo do Vagabundo quando está bêbado.
Sem falar do final emocionante. Recomendado para quem acredita que o amor é cego.




Modern Times (1936):
Um operário sofre um ataque nervoso e é demitido da fábrica. Assim começa a história de amor entre o Vagabundo, sempre à procura de emprego, e de uma órfã moradora de rua.
Modern Times foi filmado durante a época da recessão americana, desemprego, falta de moradia, crime e a desgraça caíam sobre o povo americano. Chaplin mostra aqui sua veia crítica, onde ele critica a sociedade em geral, ninguém escapa ao olhar irônico do diretor, os patrões, os operários, policiais, os ricos, comunistas, capitalistas, toda a sociedade é criticada no filme.
Nessa época, era inevitável não usar a fala no filme, mas Chaplin conseguiu juntar os dois: durante o filme, a única voz que se ouve sai de máquinas! O eterno embate entre homem e máquina nunca foi tão vivo. E nesse filme, todos os espectadores esperavam ouvir a voz do astro: ele não decepcionou, e no final, quando trabalha como garçon-cantor, chaplin canta, assim, cairia no impasse de acabar com sua imagem de mímico, mas achou uma solução, no filme, o Vagabundo não decora a letra e simplesmente canta, usando palavras sem sentindo, mantendo o espírito mímico de seus filmes.





The Great Dictador (1940):
Chaplin deixa para trás o personagem do Vagabundo para interpretar dois ao mesmo tempo: o ditador Heynkel e um barbeiro Judeu que perde a memória em uma Guerra, que são sósias e nunca chegam a efetivamente se encontrar. Ao voltar para casa, o Judeu descobre que Heynkel decidiu caçar o povo judeu de seu país. O filme mostra o ponto de vista dos dois personagens, o Ditador procura dominar o mundo, e o Barbeiro, busca viver pacificamente.
A obra-prima de Chaplin, na minha opinião, uma crítica ferrenha ao Nazismo e ao Facismo (no personagem engraçadíssimo Benzino Napaloni, ditador da Bacteria), que assolavam a Europa dos anos 20 ->50. O ditador interpretado por Chaplin é franzino, inseguro e extremamente cômico, chegando a ser ingênuo (o registro pessoal do cinema de hitler acusa que ele assistiu esse filme duas vezes).
Esse foi o primeiro filme 100% falado que Chaplin produziu e foi lançado quando os E.U.A ainda eram neutros na Guerra. Esse fato fez com que os americanos nem soubessem do que se passava nos campos de concentração de judeus. Quando Chaplin soube, disse que nunca faria graça com algo assim.
No final, o Ditador e o Barbeiro (que havia sido preso num campo de concentração) trocam de lugar, e sai daí um dos discursos mais memoráveis do cinema.

Pelo conjunto da obra:
Recomendo: para quem gosta de filmes
Não Recomendo: Ditadores e chefes cruéis de fábricas

Dica: A Warner e a distribuidora MK2 estão relançando os grandes clássicos, em DVD's duplos, com extras a dar com o pau, por 24 reais nas melhores lojas. Se você gostou do post, assista a algum deles, não deixe a obra do maior comediante do mundo morrer.

3 comentários:

  1. Brilhante, pedofilias à parte é claro, o cara é brilhante :)
    Fiquei com vontade de assistir os filmes, Tempos Modernos eu já vi. Agora quero ver os outros, City Lights em especial, pq eu sou gay.
    Btw.. post ótimo, vc escreve muito bem polvo!

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  2. Fico ótimo x)
    tempos modernos todo mundo ja viu, na escola ainda aposto hehe.

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  3. Recomendo o Grande Ditador pra quem não conhece.
    Fico feliz que gostaram.

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